segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Ensaio sobre o dia dos pais



Ensaio sobre o dia dos pais
Por Alan Lira*
(Mais conhecido por “senta que lá vem textão” - 14/08/16)


Durante o dia dos pais, em diversas vezes, eu desejava um “Feliz dia dos Pais” (que a partir daqui chamarei de F.D.P) para as mães que ao mesmo tempo fazem o papel de mãe e de pai. Desculpem-me todas as mulheres que leram ou que me ouviram dizer esse absurdo. Sim, para mim, nesses dias refletindo, transformou-se em um absurdo, e deixarei bem claro o motivo...


Quando indicamos que existem mães que fazem ao mesmo tempo o papel de mãe e pai, entendamos também que existam pais que fazem o papel de pai e de mãe. Nesse sentido, estamos assumindo que existem diferentes papéis a serem desempenhados pelo pai e pela mãe. Eis aí a minha grande inquietação. Salvo o fato de carregar no ventre a criança por nove meses e amamentar com leite materno, que são exclusividades da mãe, quais seriam as atividades a serem desenvolvidas pelo pai e pela mãe? Vamos pensar um pouco...


Considerando desde o nascimento da criança, vai ser preciso alimentar, trocar as fraldas, dar banho, fazer arrotar, fazer dormir, acalentar, brincar, cuidar da saúde, madrugar ouvindo o choro, dentre tantas outras coisas, seriam esses as atribuições das mães? Ou os pais não poderiam fazê-lo? Quanto à educação, levar à escola, buscar, acompanhar, fazer as tarefas, estudar para as provas, proteger contra as chacotas (conhecido como “antigo bullyng”), encorajar, seriam essas também as atribuições das mães? Ou os pais não poderiam fazê-lo? Quanto à mudança do corpo adolescente, primeiros amores, primeiros pelos, menstruação, masturbação, sexo. Deveria mais uma vez separar por gênero, onde a mãe fala com a menina e o pai com o menino? E sobre a carreira no ensino superior, emprego, desconforto da vida, casamento, separação, onde as crianças adultas recorrem ao colo da mãe e do pai, seria somente um deles a cuidar dessa eterna criança?


Dentre esses atributos, e muitos outros que não citei, não consigo diferenciar qual o papel do pai e qual o papel da mãe. Consigo enxergar mães fazendo maior parte desses atributos, sejam elas mães que têm a companhia do pai de seus filhos, ou mães que não podem contar com esses “homens”, ou mães que têm em seus próprios pais e tios e irmãs e irmãos um acalanto para enfrentar a vida.
Então, nada de F.D.P. para as mães que fazem o papel de pai e de mãe. Cumprimento aqueles homens que se fizeram pais, sejam procriando, sejam cuidando de seus enteados, afilhados e afins. Cumprimento os homens que tiveram coragem de se assumirem pais e não se acovardaram diante dessa bela missão.


Mulheres, no dia das mães, feliz dia das mães.
Hoje, F.D.P. para aqueles que o são.


Força Sempre.


*Alan Lira é Professor de Matemática da Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul – FAMASUL – Palmares - PE

A BALSA DA MEDUSA



Tela do pintor francês THÉODORE GÉRICAULT (1791-1824)
A BALSA DE MEDUSA (Museu do Louvre, Paris. - 40,64 cm X 56,69 cm)

A BALSA DA MEDUSA

Antes do Titanic, houve um naufrágio que, tragicamente, entrou para os anais dos grandes desastres marítimos.

Foi a notícia mais terrível de 1816: a fragata Medusa naufragara quase no fim da sua viagem entre a França e o Senegal.

A tragédia, ocorrida na ensolarada manhã de 2 de julho, deveu-se à superlotação e à imperícia do Comandante Hugues Chaumareys, um protegido de Luís XVIII, rei da França.

Sabe-se que aproximadamente quatrocentos passageiros estavam à bordo, na então considerada a mais rápida e moderna embarcação de todos os tempos.

As 147 pessoas que não conseguiram lugar no botes salva-vidas amontoaram-se em uma pequena jangada construída precariamente com tábuas, cordas e partes do mastro no qual ainda tremulavam pedaços da vela.

Chamaram-na "A balsa da Medusa".

Esfomeados e sem água para beber, muitos brigaram por um único pacote de biscoitos.

Na escuridão da primeira noite, vinte dos que se equilibravam nas bordas da jangada desapareceram no oceano.

No segundo dia, 65 dos sobreviventes foram mortos a tiros pelos oficiais: aparentemente haviam enlouquecido e, furiosos, tentaram destruir a jangada.

Dentre os náufragos famintos, desidratados e queimados pelo sol, estava o médico Jean-Baptiste Henry Savigny, que assumiu a liderança dos desesperados e, de imediato, mandou que to­dos bebessem água do mar diluída com urina, para diminuir os efeitos da desidratação.

O Dr. Savigny começou, então, a dissecar os corpos dos que iam morrendo e a dependurar as tiras de carne para secar ao sol e depois serem consumidas como alimento.

O tabu do canibalismo desfez-se como nas palavras de Dante, no canto XXXIII do Inferno, ao descrever a cena em que o Conde Ugolino, preso numa torre, com os seus filhos pequenos e sem alimento, tentou manter-se vivo comendo a carne dos que haviam morrido: “Dois dias após a sua morte ainda os chorava, depois a fome foi mais forte do que o luto.

Decorridos 13 dias à deriva, os quinze sobreviventes restantes da “Balsa da Medusa” foram resgatados pelo Argus, um pequeno navio mercante.

Inspirado nas narrativas dos sobreviventes da “Balsa da Medusa”, o pintor francês Théodore Géricault (1791-1824), pintou, em 18 meses de trabalho ininterrupto, o que veio a ser a sua obra prima, em óleo sobre tela: “A balsa da Medusa.”