sexta-feira, 29 de junho de 2018

RESENHA CRÍTICA DA OBRA Toda Versidade, livro Antológico tripartido em poesias de Paulo Goudinho, Nunes de Oliveira e Érica Barros (por Gleidistone Antunes)


RESENHA CRÍTICA

RESENHISTA: ANTUNES, Gleidistone.*

FICHA TÉCNICA

TÍTULO DA OBRA: Toda Versidade / 2017
CLASSIFICAÇÃO DA OBRA: Antologia Poética
AUTORES: Érica Barros, Nunes de Oliveira, Paulo Goudinho
GÊNERO: Literário – Poemas
EDITORA: Clube de Autores, Joinville / SC
PÁGINAS: 132
ISBN: 978-85923387-0-1

Sempre que me deparo com uma antologia para resenhar sinto uma dor no estômago. E quando se trata de poemas (a minha tara) tento ser o mais justo possível. Isto porque fazer juízo de valor acerca de alguma obra é meio que perigoso, sobretudo um livro antológico de poemas, haja vista que nos expomos juntamente com a obra a ser resenhada. Mas (como sempre temos o danado de um “mas”) Toda Versidade me deixa bem à vontade para escrever esta resenha, haja vista o cast dos três escritores que nos brindam com tais poemas de magnânima grandeza. Três cabeças tão diferentes com distintos estilos, que somam, à literatura brasileira, mais esta obra de talentos, partilha e de metaforados poemas.

Começo esta resenha com uma citação do extraordinário escritor João Cabral de Melo Neto, pernambucano de Recife: “Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos...” (In.: In: MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: volume único. Org. Marly de Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p.338. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira). Daí fazemos a ponte de que precisamos para falar acerca dos personagens que construíram uma só obra, mas com o mesmo intuito – se mostrarem. Exibirem suas marcas textuais, o que nos pressupõe que todo escritor quando escreve, quer ver, ler e ouvir o que dizem do seu trabalho. Este caso não poderia ser diferente. Entretanto, começo a análise deste livro de trás para a frente. O leitor compreenderá no final.

Érica Barros, com suas credenciais, por si só, já mostra sua intelectualidade. É graduada em Letras com habilitação em inglês e francês pela UFPI, o que nos evidencia a dimensão da capacidade de produção poética desta jovem pesquisadora da Análise do Discurso e mestranda em Estudos da Linguagem.
Seus poemas nos lembram crônicas versificadas, uma praxe dos poetas modernistas e contemporâneos, cheias de metáforas (essência anímica dos poemas), carregadas de romantismo, o que nos dá uma aparente ideia de mulher frágil, mas que logo se mostra forte, mesmo que sonhadora. “Lutadora romântica” seria o mais indicado para classificá-la, haja vista o animismo, anunciado na abertura dos seus textos. Aliás, a alma (ou Eu Lírico?) dessa poetisa se mostra multifacetada nos seus Vislumbramentos, com a paciência de Maria e com o Desassossego de uma íris vista pelo espelho, depois de um Pós-love bem bocejado. Com um Mon amour desse eu, pessoalmente, deixo-me sim sossegar-me numa boca tão poética e metafórica dessa. Os poemas de Érica Barros têm Toda Versidade e me fazem parafraseá-la que, mesmo estando nesta obra tão real e palpável: “...não deixaram de ser sonho, nem quando tornaram-se realidade”. A sua poética deixou-me alumbrado!

Nunes de Oliveira, piauiense graduado em Biblioteconomia, o que lhe garante uma grande responsabilidade: tomar conta e divulgar tesouros literários – os livros.
Amante das letras e contaminado pelo vírus da Arte Literária, mergulha no mundo dos poemas. Deseja revelar a poesia latente e inquilina do seu coração aos quatro cantos do mundo. Retalhos o anuncia, como o próprio nome diz - em pedaços. Hora em Desejos, hora em Solidão. No Tempo, judiado pelo inalcançável(?) e sendo a soma do que ele cria pela Psicoarte, transborda em jogos de palavras visivelmente desejosas. Poeta pedinte ou poeta dos desejos? Preso às Horas, ele resmingua uma eterialidade no gozo eterno de um Embalo, que jamais se repetirá na vida de cada um de nós. Singular, poético e liricamente doce é este poeta. Seguindo a Regra Gramatical de Oliveira, desejo então, ao querido leitor, para aguçar sua curiosidade em ler esse livro, sorrisos lacrimados, mas sem vírgulas. Somente com pontos de exclamação!!!

Paulo Goudinho, Licenciado em Educação Artística com habilitação em Música pela UFPI. Natural de Terezina/PI. Músico e professor da SEMED de sua cidade. Artista premiado em festivais de canções e um aventureiro na arte de poetar desde adolescente.
Dos três que compõem a obra Toda Versidade, é o mais conciso, meio que João Cabral piauiense. Seus poemas são enxutos. Assim como um soco no estômago, ele nos chama a atenção, ou à responsabilidade(?) para as causas políticas-sociais. Seus textos abrem com um questionamento: “...Se a vida é curta / Para que poemas longos?”. Se mostra inquieto e afirma que a “Poesia é a banalidade de cada dia” quando brinca banalmente e de forma concreta com a Prima Vera, esperando-a nas quatro estações: “Rodoviária / Portuária / Aeroviária / Ferroviária.” Isto nos apresenta um poeta que gosta de brincar Com Mari, com Dulce e até com O Luxo e o Lixo, donde conclui que o primeiro é o estado primitivo do segundo. Isto é sensacional, pois nos mostra uma visão atenta às figuras de linguagens com suas peculiaridades: antíteses, metáforas e aliterações. Não fosse a estruturas dos seus versos e se eu não os tivesse lido, diria que se tratava de um poeta concretista, entretanto, nesta verve dos literatos que se aventuram pela arte de poetar, ele faz parte mesmo dos poetas contemporâneos. A póetica de Goudinho precisa ser lida com muita atenção, por conta da complexidade de suas estruturas. Por sua agressividade, em alguns casos, e pelos versos “arrumados” sem cadência sem rítmica e sem métrica, bem ao estilo dos neopós-modernistas que fazem a poesia do futuro, como por exemplo, os poetas da Poesia Absoluta.

Comentado o trio-poético de Toda Versidade, atento-me agora, como disse no começo, à referência de João Cabral de Melo Neto: Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos...”. Quero dizer que estou encantado com tamanha coragem dos três ao se juntarem para a confecção da presente obra literária. Que os três fazem jus ao que o mestre Cabral escreveu. E que “quando os poetas se juntam, tecem mesmo uma manhã promissora de partilha poética, de valores éticos e profissionais”. Os três são exemplo de humildade. Esta é a palavra que define o trio-poético do Piauí. E estou muito gratificado por ter lido esta obra merecedora de estar nas grandes bibliotecas do nosso país e do mundo. Eles são um grande exemplo de fé e união, algo assim nos faz crer ainda, nos seres humanos. Leiam Toda Versidade e aprendam como se desperta a poesia em cada leitor. Eu recomendo! 

RESENHA CRÍTICA - Poesia no Jardim. Obra literária de Maria Marlene (por Gleidistone Antunes)


RESENHA CRÍTICA

RESENHISTA: ANTUNES, Gleidistone.*
 FICHA TÉCNICA
 TÍTULO DA OBRA: Poesia no Jardim / 2017
AUTORA: Maria Marlene
GÊNERO: Literário – Poemas
EDITORA: Becalete, Mogi Guaçu, SP
PÁGINAS: 92
ISBN: 978-85-9358-78-7

Resenhar uma obra literária é algo muito complexo, haja vista sua carga de subjetividade que, neste caso, é extremamente carregada de sutilezas poéticas embasadas nas figuras de linguagens, que considero ser a alma dos poemas. Isto porque cada um deles traz em si suas marcas de impressões expostas pelos poetas, a partir de suas experiencias de mundo. E na qualidade de resenhista, leitor da obra a ser resenhada – “Poesia no Jardim”, da poetisa Maria Marlene, sigo o que dizia o grande Leonardo Boff: “Ler significa reler e compreender. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam, haja vista que todo ponto de vista é a vista de um ponto.” Partindo desse princípio e com os pés no chão, recebi com muita alegria essa obra literária cujo gênero me fascina – os poemas. Para mim, cada texto poético é um encantamento.

“Poesia no Jardim” logo de cara, seja de frente ou de verso (por trás mesmo) nos encanta por sua belíssima ilustração, com traços multicoloridos de tropicalidade, sob um fundo azul celeste, a nos lembrar uma linda tarde de verão que nos convida para conhecermos esse jardim poético-imaginário, construído a partir de um sonho – o de lançar seu rebento de versos e asas a nos chamar para um voo suave sobre as brisas do tempo e da imaginação poética de MM.

A primeira orelha do livro nos apresenta a teórica Marlene, acadêmica, professora-poetisa, credenciais que a torna digna de ser lida, conhecida e reconhecida pelos brasileiros que gostam de Literatura.
Poesia no Jardim nasce de um convite inusitado feito por um beija-flor, configuração do seu Eu Lírico que, por intermédio de sua imaginação é exortada a escreve-lo. Na segunda orelha do livro, ela confessa tudo isso em versos delicados que por si só, tem uma grande alma: o jogo de metáforas a reluzir na mente dos leitores uma fábula-poética. Lindo, leve e que dá nome à obra.

Com prefácio do poeta e artista plástico Arthur Ghuma, o livro ganha um adorno metafísico que extrapola o sentido semantical e nos evidencia a semiótica advinda dos poemas de MM. Ghuma nos alerta, de certa forma, que iremos nos deparar com uma poetisa extremamente onírica, ou seja, pura e sensível, assim como uma flor campestre, com todas as suas singelezas. Naturalista mesmo. Esta imagem nos remete às indicações do fugere urbem, mas com mergulhos de amor no campo fértil da sua imaginação em Doces Lembranças que se configuram no desabafo de Coisas de Maria (I) descambando onde Nasce o Sol, Todo Exibido e continua numa Tarde Ensolarada.

Nesse sentido, ouso em afirmar que Maria Marlene é uma poetisa árcade ao contrário, ou seja, enquanto no arcadismo a razão sobrepuja a imaginação, em MM a imaginação não está nem aí para a concretude da razão e por isto ela solta seus versos tais quais andorinhas (ou beija-flores) livres de pieguices previsíveis, secas e sem graça, insensíveis.

Ela é merecedora de constar no cast das grandes escritoras modernas deste país. Sua singeleza nos evidencia que, em certos casos, o simples é chic, é sublime, é mais. Tudo isso é - Maria Marlene.