O
reacender das luzes
Roberto
de Queiroz*
Para Jorge
Hélio, “o
futuro é o passado andando de costas”.
E,
tendo em vista o cenário da política nacional contemporânea, cabem
aqui as palavras do cônsul romano Marco Túlio Cícero (106 a.C. -
43 a.C.), que, embora escritas há mais de dois mil anos, ainda hoje
são repetidas e parecem ter sido escritas em nossa era. Refiro às
“Catilinárias”,
sentenças acusatórias de Cícero contra Lúcio
Sérgio Catilina,
declaradas em pleno senado romano. Ali, Cícero
expôs publicamente a dissimulação do líder da conspiração
frustrada, Catilina, que insistia em frequentar o senado, apesar dos
crimes que cometera. Logo no primeiro discurso, de um total de
quatro, Cícero faz as seguintes indagações a Catilina: “Por
quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? Não
sentes que os teus planos estão à vista de todos?”
A corrupção é,
portanto, uma praga que vem se alastrando desde os primórdios da
humanidade. Do ponto de vista bíblico, a corrupção nasceu com
Adão, implementou-se com Eva e, consequentemente, com seus
descendentes. Assim, concordo com a tese de que “o homem não se
assombra de sua própria ganância” (Rui Barbosa). Porém
discordo desse
célebre intelectual, quando ele afirma que de tanto ver prosperar a
desonra, a injustiça e os poderes nas mãos dos maus, “o homem
chega (...) a ter vergonha de ser honesto”. Ao
contrário, de tanto ver essas mazelas sociais e de tanto conviver
com elas, o homem passa a agir por mimetismo. Como
resultado, sua consciência adormece e ele passa a achar isso normal.
Por fim,
parafraseando Marina
Colasanti, eu digo que o
homem se acostuma com essas coisas, mas não deveria... E asseguro
que “ainda
não estamos rindo de nossa honra”. Assim, espero
que o apagar das luzes deste final de ano seja breve e que estas, ao
serem reacesas, tragam consigo as luzes da revitalização da
esperança.
* Professor
e escritor. Autor de “Leitura
e escritura na escola: ensino e aprendizagem”,
Livro Rápido, 2013, entre outros.