RESENHA CRÍTICA
RESENHISTA: ANTUNES,
Gleidistone.*
FICHA TÉCNICA
TÍTULO DA OBRA: Toda Versidade / 2017
CLASSIFICAÇÃO DA OBRA:
Antologia Poética
AUTORES: Érica Barros, Nunes de Oliveira, Paulo
Goudinho
GÊNERO:
Literário – Poemas
EDITORA: Clube de Autores, Joinville / SC
PÁGINAS: 132
ISBN: 978-85923387-0-1
Sempre que me deparo
com uma antologia para resenhar sinto uma dor no estômago. E quando se trata de
poemas (a minha tara) tento ser o mais justo possível. Isto porque fazer juízo
de valor acerca de alguma obra é meio que perigoso, sobretudo um livro antológico
de poemas, haja vista que nos expomos juntamente com a obra a ser resenhada. Mas
(como sempre temos o danado de um “mas”) Toda
Versidade me deixa bem à vontade para escrever esta resenha, haja vista o cast dos três escritores que nos brindam
com tais poemas de magnânima grandeza. Três cabeças tão diferentes com distintos
estilos, que somam, à literatura brasileira, mais esta obra de talentos, partilha
e de metaforados poemas.
Começo esta resenha com
uma citação do extraordinário escritor João Cabral de Melo Neto, pernambucano
de Recife: “Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de
outros galos...” (In.: In:
MELO NETO, João Cabral de. Obra completa:
volume único. Org. Marly de Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
p.338. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira). Daí fazemos a ponte de que precisamos para falar
acerca dos personagens que construíram uma só obra, mas com o mesmo intuito –
se mostrarem. Exibirem suas marcas textuais, o que nos pressupõe que todo
escritor quando escreve, quer ver, ler e ouvir o que dizem do seu trabalho.
Este caso não poderia ser diferente. Entretanto, começo a análise deste livro
de trás para a frente. O leitor compreenderá no final.
Érica Barros, com suas credenciais,
por si só, já mostra sua intelectualidade. É graduada em Letras com habilitação
em inglês e francês pela UFPI, o que nos evidencia a dimensão da capacidade de
produção poética desta jovem pesquisadora da Análise do Discurso e mestranda em
Estudos da Linguagem.
Seus poemas nos lembram
crônicas versificadas, uma praxe dos poetas modernistas e contemporâneos,
cheias de metáforas (essência anímica dos poemas), carregadas de romantismo, o
que nos dá uma aparente ideia de mulher frágil, mas que logo se mostra forte,
mesmo que sonhadora. “Lutadora romântica” seria o mais indicado para classificá-la,
haja vista o animismo, anunciado na abertura dos seus textos. Aliás, a alma (ou
Eu Lírico?) dessa poetisa se mostra multifacetada nos seus Vislumbramentos, com a paciência de Maria e com o Desassossego
de uma íris vista pelo espelho, depois de um Pós-love bem bocejado. Com um Mon
amour desse eu, pessoalmente, deixo-me sim sossegar-me numa boca tão
poética e metafórica dessa. Os poemas de Érica Barros têm Toda Versidade e me fazem parafraseá-la que, mesmo estando nesta
obra tão real e palpável: “...não deixaram de ser sonho, nem quando tornaram-se
realidade”. A sua poética deixou-me alumbrado!
Nunes de
Oliveira,
piauiense graduado em Biblioteconomia, o que lhe garante uma grande
responsabilidade: tomar conta e divulgar tesouros literários – os livros.
Amante das letras e
contaminado pelo vírus da Arte Literária, mergulha no mundo dos poemas. Deseja
revelar a poesia latente e inquilina do seu coração aos quatro cantos do mundo.
Retalhos o anuncia, como o próprio
nome diz - em pedaços. Hora em Desejos,
hora em Solidão. No Tempo, judiado
pelo inalcançável(?) e sendo a soma do que ele cria pela Psicoarte, transborda em jogos de palavras visivelmente desejosas. Poeta
pedinte ou poeta dos desejos? Preso às Horas,
ele resmingua uma eterialidade no gozo eterno de um Embalo, que jamais se repetirá na vida de cada um de nós. Singular,
poético e liricamente doce é este poeta. Seguindo a Regra Gramatical de Oliveira, desejo então, ao querido leitor, para
aguçar sua curiosidade em ler esse livro, sorrisos lacrimados, mas sem vírgulas.
Somente com pontos de exclamação!!!
Paulo
Goudinho,
Licenciado em Educação Artística com habilitação em Música pela UFPI. Natural
de Terezina/PI. Músico e professor da SEMED de sua cidade. Artista premiado em
festivais de canções e um aventureiro na arte de poetar desde adolescente.
Dos três que compõem a
obra Toda Versidade, é o mais
conciso, meio que João Cabral piauiense. Seus poemas são enxutos. Assim como um
soco no estômago, ele nos chama a atenção, ou à responsabilidade(?) para as
causas políticas-sociais. Seus textos abrem com um questionamento: “...Se a vida é curta / Para que poemas longos?”.
Se mostra inquieto e afirma que a “Poesia
é a banalidade de cada dia” quando brinca banalmente e de forma concreta com
a Prima Vera, esperando-a nas quatro
estações: “Rodoviária / Portuária /
Aeroviária / Ferroviária.” Isto nos apresenta um poeta que gosta de brincar
Com Mari, com Dulce e até com O Luxo e o
Lixo, donde conclui que o primeiro é o estado primitivo do segundo. Isto é sensacional,
pois nos mostra uma visão atenta às figuras de linguagens com suas
peculiaridades: antíteses, metáforas e aliterações. Não fosse a estruturas dos
seus versos e se eu não os tivesse lido, diria que se tratava de um poeta
concretista, entretanto, nesta verve dos literatos que se aventuram pela arte
de poetar, ele faz parte mesmo dos poetas contemporâneos. A póetica de Goudinho
precisa ser lida com muita atenção, por conta da complexidade de suas
estruturas. Por sua agressividade, em alguns casos, e pelos versos “arrumados”
sem cadência sem rítmica e sem métrica, bem ao estilo dos neopós-modernistas
que fazem a poesia do futuro, como por exemplo, os poetas da Poesia Absoluta.
Comentado o trio-poético de Toda Versidade, atento-me agora, como
disse no começo, à referência de João Cabral de Melo Neto: Um galo sozinho não tece a
manhã: ele precisará sempre de outros galos...”. Quero dizer que estou encantado com tamanha coragem dos
três ao se juntarem para a confecção da presente obra literária. Que os três
fazem jus ao que o mestre Cabral escreveu. E que “quando os poetas se juntam,
tecem mesmo uma manhã promissora de partilha poética, de valores éticos e
profissionais”. Os três são exemplo de humildade. Esta é a palavra que define o
trio-poético do Piauí. E estou muito gratificado por ter lido esta obra
merecedora de estar nas grandes bibliotecas do nosso país e do mundo. Eles são
um grande exemplo de fé e união, algo assim nos faz crer ainda, nos seres
humanos. Leiam Toda Versidade e
aprendam como se desperta a poesia em cada leitor. Eu recomendo!