A INCRÍVEL HISTÓRIA DOS
PATRIOTAS
QUE QUERIAM UM REVÓLVER
E
FICARAM SEM O ARROZ
Por Henrique Rodrigues,
jornalista e professor de Literatura Brasileira
Um saco de cinco quilos
de arroz chegou a 25 reais. Com isso, o homem que preside a associação dos
supermercados aconselhou o brasileiro a comer macarrão. A insignificante
garrafa de óleo de soja, antes coadjuvante nas prateleiras e gôndolas do
varejo, agora ostenta o status de celebridade e é comercializada a oito reais.
A coisa anda tão
estranha que em breve vai ter pasteleiro vendendo pastel ensopado.
Já o dólar, que até
pouco tempo representava o passaporte para o consumo de gêneros importados,
estourou em 5,61 reais nas últimas semanas. O povão piadista e incomplacente
que xingou doze gerações de Dilma Rousseff quando a verdinha bateu 4,05 reais
assiste passivamente à moeda brasileira derreter, enquanto caça os perigosos
comunistas imaginários e clama por cloroquina contra o vírus chinês.
Não será necessário
estender muito essa prosa, tampouco listar a sucessão de humilhações que nos
são impostas diariamente, para retratar o cenário desolador e inimaginável em
que o furdunço de Jair Bolsonaro (que alguns preferem chamar de governo) nos
meteu.
O BRASIL ESFACELOU-SE
Miséria, desemprego
recorde, destruição generalizada da máquina pública, preços de gêneros básicos
em disparada galopante, fome, desprestígio e isolamento em relação à comunidade
internacional. Enfim, toda semana chegamos ao fundo do poço, para descobrir que
lá sempre há um alçapão.
Como diz a poesia de
Criolo, aqui o elevador só desce.
Fico imaginando o
choramingo silencioso de um bolsonarista na intimidade da fronha úmida, deitado
à noite. Essa gente rasa que sonhou em desfilar de Opala 83 com uma pistola na
cinta, cheio de grana na carteira, mexendo com a mulherada na rua e indo à
igreja de traje social no domingo para expiar os pecados, e que agora não
consegue comprar uma lata de óleo pra fritar um bolinho de arroz.
Bolinho de arroz? Não,
jamais! O arroz de Bolsonaro custa o mesmo que o presunto Parma da Era Lula.
O transe é tão
impressionante que não se ouve um só pio. O país desmorona, a dignidade vai
pelo ralo e a gritaria irascível vai calando.
Nem tanto, né?
Essa psicose deve ser
uma coisa tão gostosa, tão orgasmática, que o sujeito abandona a carne e a
cervejinha pra comer ovo cozido, vê o salário achatar, empobrece a passos
largos, mas não cogita revoltar-se com o discurso encantador do desocupado
pândego que está demolindo o Brasil.
LOUCURA? FALTA DE
PERCEPÇÃO? SOCIOPATIA?
Pode até ser… Mas ainda
penso que há muita gente envergonhada. É… Gente com vergonha. Não deve ser nada
fácil assumir que foi completamente iludido por um energúmeno, um sujeito
absolutamente ignorante e tosco, que com meia dúzia de abobrinhas conseguiu hipotecar
até a sua alma, prometendo trazer de volta um país que nunca existiu.
Sim, não deve ser fácil
ver a miséria avizinhar-se e saber que sua idolatria por um cara profundamente
corrupto visava, no fundo, à honestidade e à fartura.
Os grupos que encamparam
a cruzada sebastianista por um novo Brasil íntegro e heroico, de cidadãos de
bem extasiados com seu líder sábio, desde já têm um dilema: como garantir as
armas e munições tão desejadas antes que cheguemos ao ponto de revirar o lixo
procurando o almoço?
Só posso desejar que
sigam fortes e cobicosos nessa busca pelo paraíso armado ultraconservador,
implacáveis com os comunistas que infestam seus inconscientes doentios.
Sobre a atual situação,
creio que uma passagem de Cervantes, em Dom Quixote de La Mancha, sirva para
acalmar os nervos e consolar a alma, afinal, “o sonho é o alívio das misérias
dos que as têm acordados”.
Mitoooo!