PESSOAL,
NA MORAL!
O
texto que apresento a vocês, queridos leitores deste Blog, foi
postado num grupo do qual eu e muitos entendidos de política,
economia, educação, justiça, segurança, direitos social,
econômico e afins fazem parte.
É
um desses raros artigos que, pela maestria com a qual foi produzido,
tornou-se atemporal, ou seja, estará sempre atual, tanto pela
temática abordada, quanto pela contextualização nele apresentada.
Deixemos
de blá-blá-blá e vamos ao texto.
O
MEDO DA INTELIGÊNCIA
Por
José Alberto Gueiros
Quando Winston Churchill,
ainda jovem, acabou de pronunciar o seu discurso de estreia na Câmara
dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o
que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembleia de
vedetas políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e
disse, em tom paternal: "Meu jovem, você cometeu um grande
erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é
imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter
gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter
conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta."
E ali estava uma das melhores
lições de abismo que um velho sábio pode dar ao pupilo que se
inicia numa carreira difícil. A maior parte das pessoas encasteladas
em posições políticas são medíocres e tem um indisfarçável
medo da inteligência. Isso na Inglaterra. Imaginem aqui noutros
países. Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:
"Há
tantos burros mandando em homens de inteligência, que às vezes fico
pensando que a burrice é uma Ciência."
Temos de admitir que, de um
modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de
posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos
displicentes que não revelam o apetite do poder. Mas é preciso
considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos,
têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com
verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem
passar. Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas
estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões
dos lúcidos.
Dentro desse raciocínio, que
poderia ser uma extensão do Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdam,
somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se
quiser vencer na vida. É pecado fazer sombra a alguém até numa
conversa social. Assim como um grupo de senhoras burguesas bem
casadas boicota automaticamente a entrada de uma jovem mulher bonita
no seu círculo de convivência, por medo de perder seus maridos,
também os encastelados medíocres se fecham como ostras à simples
aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar. Eles conhecem
bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que
os mais dotados realizam com uma perna nas costas, enfim, na medida
em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem
problemas, os medíocres os repudiam para se defender. É um paradoxo
angustiante.
Infelizmente temos de viver
segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa
espécie de desvantagem perante a vida. Como é sábio o velho
conselho de Nelson Rodrigues: "Finge-te de idiota e terás o
céu e a terra”.
O problema é que os
inteligentes não gostam de brilhar. Que Deus os proteja para que as
cobras não os ataquem.
in
JORNAL DA BAHIA - Sábado, 23/09/79.