https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/07/marcos-pontes-tambem-questiona-dados-do-inpe-e-chama-diretor-para-conversa.shtml |
A VENDA DA CASERNA
O nome
do astronauta Marcos Pontes, tenente-coronel da reserva da Força Aérea
Brasileira, é o epitáfio no túmulo do militar nacionalista, essa fantasia que
embala a esquerda brasileira há, pelo menos, cinco décadas.
A cada
tragédia nacional, seja o golpe de 1964, seja o de 2016, há sempre os otimistas
que, mesmo acuados num canto qualquer da democracia, bradam suas esperanças
nesse Quixote verde e amarelo: o militar nacionalista. Conservador, tosco,
grosseiro, rastejante, bitolado, ignorante, violento – mas nacionalista.
Esse
herói que pode até consentir a tortura, mas não aprova a entrega da Amazônia
aos estrangeiros.
Aceita
descer o pau nos estudantes, mas nada de vender a Petrobras.
Cacete
nos comunistas? Tudo bem, mas não toquem nas nossas riquezas.
Da
redemocratização do País, em 1985, até os últimos dias de Dilma Rousseff no
poder, vi muita gente com fé inabalável na existência dessa criatura. Poderia
ocorrer de tudo, mas, quando nada mais nos restasse, os militares nacionalistas
iriam dizer “chega”, porque esse País poderia se tornar o lixo que fosse, mas
sempre seria nosso, dos brasileiros.
Com
Bolsonaro, até essa esperança ridícula nós perdemos. Não há nem sombra de
nacionalismo nas Forças Armadas brasileiras. O País está sendo desmontado
diante deles e com a ajuda deles, representados por esse bando de generais
empoleirados em cargos da Presidência da República, atores coadjuvantes dessa
ópera bufa que nos tornou uma terrível piada internacional.
Pontes,
essa figura cada vez mais roliça enfiada em um macacão da Nasa, poderia ter se
tornado, ao menos, um guardião da ciência. A viagem do então tenente-coronel ao
espaço, de carona na nave espacial russa Soyuz, custou 10 milhões de dólares
aos contribuintes brasileiros, em 2006. Sorridente, o nosso orgulhoso
astronauta plantou feijão no algodão, em gravidade zero, e, na volta, largou a
FAB, virou estrela de programas de auditório, garoto propaganda de travesseiros
e, finalmente, coach motivacional para trouxas motivados.
Ocorre
que o único brasileiro que viu a Terra do espaço aceitou fazer parte de um
governo de terraplanistas que acreditam, também sem restrições, que o nazismo
era de esquerda – o que, mesmo para um militar disposto a tudo, é um insulto
histórico e uma ofensa à luta dos pracinhas, na Itália, durante da Segunda
Guerra Mundial.
Agora,
Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, vendeu o que restava de sua alma ao
argumento de que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mente ao
revelar que o desmatamento da Amazônia, em junho, aumentou 88% em relação ao
mesmo mês, no ano passado. O fez sabendo ser uma infâmia, em solidariedade a
Bozo, um demente obcecado com a própria ignorância, determinado a destruir o
patrimônio e a ciência do Brasil.
Não há
nenhum militar nacionalista. Estão todos empenhados em se vingar do
esquecimento a que foram relegados, depois da ditadura, sabemos, agora, não sem
razão. Todos esses anos consumindo recursos do País, mas não sabem nada do
Brasil, não entendem nada da realidade brasileira e, em troca de cargos,
aceitam fazer parte de uma tragédia nacional de destruição em massa dos direitos do povo brasileiro, sem precedentes em nossa história.