INTERVENÇÃO:
O MEDO DO MORRO TRAZ DE VOLTA OS GENERAIS
por:
Guilherme Coutinho*
O
morro ameaçou descer e os generais assumiram o controle da segurança
pública do Rio de Janeiro. Utilizando-se de uma das medidas mais
drásticas existentes no ordenamento jurídico brasileiro, a
intervenção federal, Michel Temer colocou as Forças Armadas no
comando das polícias (civil e militar), além do Corpo de Bombeiros
do estado fluminense. O aumento da violência durante os dias de
carnaval –infelizmente, recorrente como ressaca em quarta-feira de
cinzas – não justificaria ato tão extremo, sobretudo após o
término da folia. Nem mesmo momentos delicados como copa do mundo,
olimpíadas, chacinas de crianças e guerra de traficantes mereceram
ato tão extremo. Mas a ameaça da descida do morro para participação
política amedrontou o governo golpista: os generais estão de volta.
O
decreto de intervenção, competência da Presidência da República,
tem validade imediata e deverá ser submetido ao Congresso Nacional
em 24 horas para a deliberação, em sessão conjunta. O Presidente
do Congresso, Eunício Oliveira, já sinalizou que convocará a
sessão de deputados e senadores e que não deve haver impedimentos
políticos para a aprovação da medida. Na prática, o Rio de
Janeiro terá dois governadores, um civil e um militar: Luiz Fernando
Pezão e o General Braga Neto, interventor escolhido por Temer para
ser o braço forte do Estado no Palácio da Guanabara. Uma nova etapa
do golpe acaba de começar.
A
verdadeira motivação para intervenção, não foram os assaltos
durante o reinado de momo, mas, sim, o medo de uma possível comoção
social vindoura que pode abalar, de baixo para cima, as estruturas da
República. A faixa na entrada da Rocinha, que motivou mais faixas em
outras comunidades cariocas, prometendo descer em caso de prisão de
Lula, mostrou a força do povo que, se unido, é uma fortaleza
inabalável. Um outro indício sintomático de tenção
revolucionária foi um saque a um supermercado que não foi impedido
pela polícia, afinal ninguém deve mesmo ser impedido de comer.
Militares
são treinados para guerra e não para tempos de paz, e é para isso
que o governo parece estar se preparando. O morro ameaçou descer, o
povo ameaçou reivindicar seus direitos e a repressão militar voltou
em um piscar de olhos. A situação da autoridade desmedida do
governo golpista e do Poder Judiciário pode ter chegado a um extremo
que a população não mais aceitará. Michel Temer pode ter pensado
em reprimir uma revolução popular, de forma preventiva,
demonstrando o medo legítimo que os governos ilegítimos devem ter
de seu povo. E que as classes menos favorecidas (as mais prejudicadas
pelas reformas golpistas) entendam de uma vez seu poder sobre os
rumos da nação.
*Guilherme
Couto é Jornalista e Especialista em Direito Público. Também é
autor do blog: Nitroglicerina Política
Fonte:
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/guilhermecoutinho/342447/Interven%C3%A7%C3%A3o-o-medo-do-morro-traz-de-volta-os-generais.htm