quinta-feira, 1 de agosto de 2019

FALE MAIS, BOLSONARO - o peixe e o falastrão quase sempre morrem pela boca



FALE MAIS, BOLSONARO!

“O peixe e o falastrão quase sempre 
morrem pela boca!”

Bolsonaro disse que não vai mudar seu jeito. Ele está certo. Tem que continuar desse jeitinho, tão “espontâneo”, sem filtro, que seus eleitores admiram. Apoio total para que diga tudo o que pensa. Fale mais, presidente. Fale tudo o que Vossa Excelência, ops, pensa. Faça piada com pinto de japonês, chame nordestino de paraíba, diga que não tem fome no Brasil, minimize a questão do trabalho infantil, ameace jornalista de pegar cana.

Diga que não houve ditadura, que jornalista torturada não foi torturada. Insinue que sabe o que aconteceu com desaparecido político, chame de balela documentos oficiais sobre os mortos do regime. Diga que o nazismo é de esquerda. E que o exercito não matou ninguém, afinal, o que são 80 tiros?

Diga que pode perdoar o holocausto, que vai fechar a Ancine, que não pode filme com prostituta ou propaganda com transexual. Proíba as palavras “lacrou” e “morri” em peças do governo. Diga mais, mito, diga vai privilegiar o filhão com uma embaixada e que vai mandar a família passear de helicóptero da FAB.

Fale para quem quiser ouvir que o Brasil não pode ser país de turismo gay, mas quem quiser sexo com mulher, fique à vontade. Fale mais, tiozão do pavê. Diga que só os veganos se preocupam com o meio ambiente. Defenda trabalho forçado para presidiários. É proibido, e daí?

Fale mais, sincerão. Diga que o IBGE não sabe nada sobre o desemprego, que a Fiocruz não tem dados confiáveis sobre drogas, que o Inpe mente sobre o desmatamento, que o Brasil é exemplo para o mundo em previsão ambiental, o país que menos usa agrotóxico.

Fale mais, todos os dias, sem falhar nenhum, para que seja de conhecimento geral, para que não nos esqueçamos nem por um único dia o autocrata, ignóbil sem empatia, o ser obtuso que desgoverna este país. Fale mais, que tá pouco. Fale mais porque o peixe e o falastrão quase sempre morrem pela boca.


Texto de Mariliz Pereira Borges
Jornal A Folha de São Paulo, 01/08/2019