No apagar das luzes
Admmauro Gommes
ESCRITOR, DIRETOR DA FAMASUL/ PALMARES
Seria bom, no
final de um ano difícil, tratarmos de notícias mais amenas, mais suaves.
Sugerir caminhadas ou umas pedaladas de bike, à beira mar, para desestresse.
Mas “pedaladas” é um vocábulo “sujo” e não dá nem para limpá-lo por um
“lava-jato,” outra palavra proibida. Então, fica difícil pegar leve, quando
toda a roupa mal lavada vai ficar de molho até janeiro. Ou melhor, fevereiro,
depois do Carnaval. Ou será que a vestimenta da quadrilha continuará empoeirada
até as festas juninas?
Como
resolver esta questão? Será que ainda há saída para o Brasil? João Constantino
diz que a saída só ocorrerá se for pelo aeroporto. Não sejamos tão pessimistas
assim. Mas o fato é que não dá para esquecer, tendo em vista os últimos
acontecimentos da política nacional, das exclamações do cônsul romano Marco
Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.): “Oh tempos, oh costumes!” Esta parte de um
de seus discursos foi tão repetida ultimamente que parece ter sido escrita em
nossa era.
Diante
desse quadro, a reflexão é inevitável: Como o homem não se assombra de sua
própria ganância! Como a vida do faz de conta toma conta de nossas vidas! O
pior é que vamos nos acostumando com isso. Rui Barbosa estava (e sempre esteve)
certo, quando percebeu, já em sua época que "De tanto ver triunfar as
nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."
Será que
chegamos no tempo de ter vergonha de sermos honestos? (Oh costumes!). Qualquer
um de nós que disser em alto e bom tom, no meio da rua: “Eu sou honesto!” vai
ser observado com um olhar de censura. Se alguém duvidar, que tente fazer isso.
Como a
moral é a ciência dos bons costumes, resta saber, para efeito de sua aplicação:
bons costumes de quem? Se um grupo de desordeiros considera a desordem como
prática saudável à sobrevivência de sua corja, a desordem passará a fazer parte
dos “bons costumes” deles? Se assim for, ai de nós! “...de tanto ver prosperar
a desonra,” estamos nos desanimando da virtude!
Mas ainda
há esperança. Espero que no apagar das luzes desse ano não surja a inevitável
escuridão. Apareçam novas luzes. O que me alenta é que ainda não estamos rindo
de nossa honra. Ou estamos?