quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

No apagar das luzes (Admmauro Gommes)


No apagar das luzes
Admmauro Gommes
ESCRITOR, DIRETOR DA FAMASUL/ PALMARES


Seria bom, no final de um ano difícil, tratarmos de notícias mais amenas, mais suaves. Sugerir caminhadas ou umas pedaladas de bike, à beira mar, para desestresse. Mas “pedaladas” é um vocábulo “sujo” e não dá nem para limpá-lo por um “lava-jato,” outra palavra proibida. Então, fica difícil pegar leve, quando toda a roupa mal lavada vai ficar de molho até janeiro. Ou melhor, fevereiro, depois do Carnaval. Ou será que a vestimenta da quadrilha continuará empoeirada até as festas juninas?

Como resolver esta questão? Será que ainda há saída para o Brasil? João Constantino diz que a saída só ocorrerá se for pelo aeroporto. Não sejamos tão pessimistas assim. Mas o fato é que não dá para esquecer, tendo em vista os últimos acontecimentos da política nacional, das exclamações do cônsul romano Marco Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.): “Oh tempos, oh costumes!” Esta parte de um de seus discursos foi tão repetida ultimamente que parece ter sido escrita em nossa era.

Diante desse quadro, a reflexão é inevitável: Como o homem não se assombra de sua própria ganância! Como a vida do faz de conta toma conta de nossas vidas! O pior é que vamos nos acostumando com isso. Rui Barbosa estava (e sempre esteve) certo, quando percebeu, já em sua época que "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."

Será que chegamos no tempo de ter vergonha de sermos honestos? (Oh costumes!). Qualquer um de nós que disser em alto e bom tom, no meio da rua: “Eu sou honesto!” vai ser observado com um olhar de censura. Se alguém duvidar, que tente fazer isso.
Como a moral é a ciência dos bons costumes, resta saber, para efeito de sua aplicação: bons costumes de quem? Se um grupo de desordeiros considera a desordem como prática saudável à sobrevivência de sua corja, a desordem passará a fazer parte dos “bons costumes” deles? Se assim for, ai de nós! “...de tanto ver prosperar a desonra,” estamos nos desanimando da virtude!

Mas ainda há esperança. Espero que no apagar das luzes desse ano não surja a inevitável escuridão. Apareçam novas luzes. O que me alenta é que ainda não estamos rindo de nossa honra. Ou estamos?

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