sábado, 14 de setembro de 2013

O GRITO NA EDUCAÇÃO


O GRITO NA EDUCAÇÃO


Quando a educação não faz mais nenhum sentido e não possui qualquer propósito o disciplinamento torna-se a única razão da escola. Quem não educa para a liberdade necessita subordinar e adestrar para a obediência.

Na antiga Grécia o pedagogo era aquele que conduzia o aluno à escola. Hoje, levada para dentro da escola, a pedagoga é, via de regra, aquela que conduz o aluno para o lugar nenhum. Sem horizonte, sem fins, sem perspectivas, o seu cadáver adiado reproduz as horas e as regras e assim a ampulheta da vida é virada todos os dias, garantindo a ordem conveniente do enfadonho ambiente escolar.

Onde não há prazer em aprender, onde não há interesse em descobrir o mundo, onde não há espaço para a reflexão e o debate sobre as verdades estabelecidas, também não há lugar para o desenvolvimento do intelecto ou para a evolução do conhecimento. Ambiente desagradável, o modelo da escola passa a ser o exército, esfera onde não há possibilidade para questionamentos, para o prazer de fazer e criar; espaço do não pode isso, do não deve aquilo, do não pode nem deve aquilo outro. Marcha aluninho cabeça de papel, quem não marchar direito...

Refém de uma pedagogia da regra, da ordem, da punição e do grito, a satisfação da pedagoga se assemelha à do tirano abandonado que tenta nos atos mais imbecis testar sua capacidade de distribuir castigos e recompensas e causar mal-estar a seus súditos infiéis. A pedagogia do grito não se importa com o desenvolvimento do processo criativo, não se interessa com o aprender a aprender, sua preocupação é a domesticação, a ordem, as regras... Quanto mais regras e normas mais possibilidades punitivas e maior controle.

Mais regras, mais castigos, mais crimes; na falta de uma doutrina ou filosofia moral, diante da ausência de justificativa ética, o ato de penitenciar ou de tentar impor qualquer punição que leve a algum arrependimento por algum erro ou falta cometida, nada mais é do que sadismo, vingança truculenta e descontrole. Mas para deleite da pedagoga, a escola exacerbada por seu lado de penitenciária e ainda premiada por seu lado de prisão, com seu ambiente irresistivelmente agradável formado por grandes portões e grades por todos os lados, é o ambiente propício para se impor regras, para obter controle e submissão.

Fruto da mediocridade a pedagoga quer uniformizar... Ela, coitada, não sabe que o novo conhecimento nasce da experimentação, de tentativas e erros, de uma busca que só pode nascer com a insatisfação, com a negação do pré-estabelecido. A pobre pedagoga desconhece aquilo que é óbvio e ainda se acha na condição e no direito de julgar[1], de apontar o dedo, de culpar e atribuir responsabilidades; pior num ato que imagina ser educar se coloca como comandante em chefe na condição de conduzir a tropa, mesmo que em direção a caminho nenhum.

Mas qual é a sua culpa? É óbvio que a pedagoga é também vítima da sua má formação, afinal ninguém com o mínimo de desenvolvimento de sua capacidade cognitiva se sujeitaria, de bom grado e de modo consciente, a desempenhar papel tão ridículo; afinal, se para as crianças a figura de megera ainda é capaz de causar medo e repugnância, para o cruel senso de justiça dos adolescentes ela vai se tornando grotesca ou patética e a mulherzinha de cara amarrada não deixa de ser vista como a histérica mal amada ou a tiazinha mal comida e ainda assim indigna de piedade.

Sejamos mais complacentes afinal só pode ser taxada de vítima quem, após alguns semestres num curso de pedagogia, abandona seus sonhos de educadora, para ser carcereira de adolescentes. O seu grito, portanto, talvez seja o recurso da derrotada diante do seu destino: o maior castigo ao cadáver insepulto da pedagoga.






[1] Pedagogo. [Do grego paedagogu]. 3. Fam. Aquele que se julga com o direito de censurar o outro. In. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. Pg. 1290.

 

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