O Estado não é um prolongamento da família
POR MICHEL
ZAIDAN*
19 de
Agosto de 2014 às 11:18h
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Seguindo
as lições de Hegel, Weber e o nosso brasileríssimo Sérgio Buarque
de Holanda - o pai de Chico Buarque - a matriz formadora do estado
brasileiro é a moral da família, ou a ética de Antígona, onde os
deveres e as lealdades de sangue se sobrepõem as do estado
republicano. Diz o historiador paulista que o patrimonialismo é a
marca registrada das nossas instituições políticas locais e
nacionais. Os chefes políticos e oligarcas pensam que o estado é um
mero prolongamento da organização familiar. E agem, segundo o
famoso dito popular: "Ao amigos e parentes, tudo. Aos inimigos, os
rigores da lei". Nada mais contrário ao espírito do Estado
Moderno (também chamado de racional-legal ou burocrático) do que a
ética da família, dos irmãos, dos filhos, dos maridos ou dos avôs.
O estado não pode e não deve ser gerido como uma "Casa
Grande", segundo a vontade e as conveniências do chefe ou dono
da organização de parentela, como diz a Maria Isaura Pereira de
Queiroz.
Uma
família, por mais ilustre e importante que ela julgue ser, não pode
se arrogar decidir os rumos de uma campanha presidencial. Muito menos
os parentes de uma família. O Estado republicano é maior do que uma
oligarquia familiar, seja o nome que ela carregue. O Estado é
público, a oligarquia é da família e dos amigos e apaniguados. Os
negócios do estado são públicos, de todos os cidadãos. Os
negócios da oligarquia dizem respeito aos interesses da família. A
condução do processo sucessório da chapa do PSB e o tratamento
dado a esse processo pela mídia e as instituições competentes em
legislação eleitoral no Brasil e Pernambuco não podem fechar os
olhos para essa "ação entre familiares e amigos" que tem
sido a questão sucessória do falecido candidato. Ou existe partido,
instituição pública, com estatuto, comando e diretório, ou uma
sociedade conjugal ou familiar se sobrepõe à organização
partidária e decide como vai ser a disputa e eleitoral. O luto de
ninguém autoriza tal aberração institucional. Afinal, há leis ou
tudo é permitido na República brasileira.
A
escolha de uma militante pentecostal, vinculada por votos de fé à
Igreja evangélica Assembleia de Deus, por decisão do irmão e da
esposa do falecido, reduz à disputa sucessória a quem acredita em
Deus, no criacionismo, na Bíblia, no casamento heterossexual etc. E
em quem não acredita ou aceita esses dogmas religiosos. A esfera
pública-eleitoral dessas próximas eleições não pode se reduzir a
um debate pobre, fundamentalista, conservador como esse, enquanto os
problemas econômicos, administrativos, sociais e de infraestrutura
aguardam pacientemente por uma solução. Há um casamento do
obscurantismo com o familismo amoral nessa saída. Nem um nem outro é
salutar para a sociedade brasileira. Aqueles que defendem um estado
laico, republicano e socialista têm que se manifestar diante de uma
tal retrocesso nas conquistas democráticas do povo brasileiro.
MICHEL
ZAIDAN* cientista político da UFPE – Universidade Federal de
Pernambuco
Fonte:
http://www.brasil247.com/+5m2yz
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