DIA DA CARIDADE
Mário Lange de S. Thiago
“A
CARIDADE É UM EXERCÍCIO ESPIRITUAL… QUEM PRATICA O BEM, COLOCA EM
MOVIMENTO
AS FORÇAS DA ALMA.”
Chico Xavier
A Lei nº 5.063, de 4 de julho de 1966, instituiu o dia 19 de julho
como sendo o dia da caridade. É certo que a lei não torna a
caridade obrigatória, nem mesmo a sua comemoração neste dia.
Então, o que terá levado o legislador a tal indicação normativa,
que não encerra norma alguma? Como nas outras comemorações, do
mesmo modo apontadas em normas jurídicas, proclama uma questão
moral, subsumida no conceito de caridade, dando-lhe significação
convivencial, que é em última análise o objeto do Direito.
Trata-se de um artifício, do ponto de vista jurídico, com vistas à
reflexão.
A caridade é um conceito cristão, nem por isso necessariamente
repudiado por outras religiões. Paulo, na 1ª Epístola aos
Coríntios, ressoando a Parábola do Bom Samaritano, fala-nos da
caridade, considerando-a como a virtude mais excelente, mesmo em face
da fé e da esperança (“A maior delas, porém, é a caridade”,
cf. a tradução da Bíblia de Jerusalém). Entre os espíritas, que
construíram ao lado das teologias tradicionais um modelo teórico
que dá dimensão espiritual aos ensinos do Cristo, a caridade vem
pontuada na máxima: “Fora da caridade não há salvação”.
Ainda marcada pela palavra “salvação”, a expressão indica, em
realidade, a ideia de evolução, ou seja, a transformação moral do
Espírito.
O pão da caridade |
Mas, que vem a ser a caridade e porque se dá a ela tanta
significação, centralizando todo o modelo existencial cristão?
Dir-se-á que a caridade é o amor em movimento, expressando-se.
Logo, sem amor não há verdadeiramente caridade. Veja-se a expressão
de Paulo: “Ainda que distribuísse todos os meus bens aos
famintos,... se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria”.
E aqui não se está falando de amor a alguma coisa excelente ou,
mesmo, a alguém com merecimentos estéticos, existenciais, ou ainda,
fragilidades. Mas, de amor, simplesmente, como prefere Madre Tereza,
patrimônio espiritual imperturbável e inextinguível. Portanto, no
processo espiritual evolutivo o que nos edifica e posiciona
vibratoriamente nas dimensões da espiritualidade, não é a obra ou
o serviço em si (a que se dá valor, entretanto), mas a mudança
interior ou a renovação mental, que permite compreender o poema
franciscano do “é dando que se recebe”.
A caridade pode ser material ou moral, mas é imprescindível
distinguir, na esteira de Kardec, a caridade benevolente da caridade
beneficente. Nas palavras do Codificador “se a beneficência é
necessariamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer
limites à benevolência”. Entreguemo-nos à caridade como valor
subjetivo, essencial à evolução do Espírito, posto que, como
define Paulo, “A caridade é paciente; a caridade é prestativa,
não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz
de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se
irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se
regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta”.
(o autor
é Vice-Presidente de Cultura e Ciência, da Federação Espírita
Catarinense)
Nenhum comentário:
Postar um comentário