Tela
do pintor francês THÉODORE GÉRICAULT (1791-1824)
A BALSA DE
MEDUSA (Museu do Louvre, Paris. - 40,64 cm X 56,69 cm)
A BALSA DA
MEDUSA
Antes
do Titanic, houve um naufrágio que, tragicamente, entrou para os
anais dos grandes desastres marítimos.
Foi
a notícia mais terrível de 1816: a fragata Medusa naufragara quase
no fim da sua viagem entre a França e o Senegal.
A
tragédia, ocorrida na ensolarada manhã de 2 de julho, deveu-se à
superlotação e à imperícia do Comandante Hugues Chaumareys, um
protegido de Luís XVIII, rei da França.
Sabe-se
que aproximadamente quatrocentos passageiros estavam à bordo, na
então considerada a mais rápida e moderna embarcação de todos os
tempos.
As
147 pessoas que não conseguiram lugar no botes salva-vidas
amontoaram-se em uma pequena jangada construída precariamente com
tábuas, cordas e partes do mastro no qual ainda tremulavam pedaços
da vela.
Chamaram-na
"A balsa da Medusa".
Esfomeados
e sem água para beber, muitos brigaram por um único pacote de
biscoitos.
Na
escuridão da primeira noite, vinte dos que se equilibravam nas
bordas da jangada desapareceram no oceano.
No
segundo dia, 65 dos sobreviventes foram mortos a tiros pelos
oficiais: aparentemente haviam enlouquecido e, furiosos, tentaram
destruir a jangada.
Dentre
os náufragos famintos, desidratados e queimados pelo sol, estava o
médico Jean-Baptiste Henry Savigny, que assumiu a liderança dos
desesperados e, de imediato, mandou que todos bebessem água do
mar diluída com urina, para diminuir os efeitos da desidratação.
O
Dr. Savigny começou, então, a dissecar os corpos dos que iam
morrendo e a dependurar as tiras de carne para secar ao sol e depois
serem consumidas como alimento.
O
tabu do canibalismo desfez-se como nas palavras de Dante, no canto
XXXIII do Inferno, ao descrever a cena em que o Conde Ugolino, preso
numa torre, com os seus filhos pequenos e sem alimento, tentou
manter-se vivo comendo a carne dos que haviam morrido: “Dois
dias após a sua morte ainda os chorava, depois a fome foi mais forte
do que o luto.”
Decorridos
13 dias à deriva, os quinze sobreviventes restantes da “Balsa da
Medusa” foram resgatados pelo Argus, um pequeno navio mercante.
Inspirado
nas narrativas dos sobreviventes da “Balsa da Medusa”, o
pintor francês Théodore Géricault (1791-1824), pintou, em 18 meses
de trabalho ininterrupto, o que veio a ser a sua obra prima, em óleo
sobre tela: “A balsa da Medusa.”
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