Múcio Goes, em foto de perfil escolhida por ele mesmo
O
COSMO RECEBE EM SEUS BRAÇOS UM POETA DE PRIMEIRA GRANDEZA – MÚCIO
GOES, UM PALMARENSE SINTETIZADOR DE VERSOS!
No
dia de ontem (20/4)Palmares perdeu um dos maiores nomes na
Literatura. Tratasse do grande artífice da palavra Múcio
de Lima Góes, ou
simplesmente Múcio Goes.
Residente
em Maceió desde 1991, o jovem poeta vinha sofrendo há anos em
consequência da tretraplegia, por conta de acidente automobilístico
que o colocou numa cadeira de rodas.
A
sua condição de cadeirante não o fez perder a fé na vida. Ele
então adentra o universo das palavras e com elas estabelece um pacto
de sintetização. Isto foi a sua marca maior em todos os poemas que
produziu.
Tive
o privilégio de trocar, por pouco tempo, figurinhas com o poeta.
Homem de palavras curtas, todavia, bastante incisivas e
transgressoras dos paradigmas gramaticais a que muitos outros poetas
se submetem, mas, como disse a mim certa vez: “Os outros são os
ostras!”
Personalidade
franca, frente as dores atrozes que tomavam conta de seu corpo, ele,
mesmo assim encontrava lenitivo nas palavras.
Escreveu
poemas lindos como:
"ainda
ontem
passeando
pelo jardim
tropecei
num pé de
saudades
e
caí em mim."
Texto
extremamente introspectivo, que nos remete a falta que alguém muito
importante lhe fazia. Certamente a sua mãe, pessoa que a vida toda
cuidava do poeta, sobretudo, depois do acidente sofrido pelo poeta.
Em
seus poemas também flava de dores físicas, sofrimento que o
acompanhou por muitos anos e que lhe provocava uma insônia feroz.
Este poema nos evidencia o tamanho da agonia impregnada no corpo do
seu criador.:
"chega
a
noite
meço
a
dor
e
ador
meço"
Múcio
Goes, apesar de ter muitos amigos e admiradores, era um poeta
solitário (ou pelo menos se sentia assim). Para mostrar isso
escreveu:
"eu
poderia
estar
roubando
matando
mas
estou aqui
fazendo
poesia
driblando
a solidão
mente
sã
corpo
não"
Nestes
dois últimos versos percebemos uma queixa acerca de sua condição
física. Isto se evidencia em vários dos seus poemas. Mas também,
quem em sã consciência, aceitaria viver aprisionado no próprio
corpo sem um certo grau de “amargura” interior?
Além
das temáticas de solidão, saudade e dor o amor e sexo também
fizeram parte do seu imaginário de poeta dos versos curtos,
sintetizados no seguinte poema:
{poeminha
de verão}
nesse
calor
melhor
que ver-te
é
te levar
para
um sorvete
e
não só verte
mas
sol ver-te
dissolver-te
ter-te
sorver-te”
Observemos
que ele sempre começava seus poemas com letras minúsculas,
quebrando literariamente com a regra gramatical, haja vista que a
licença poética abraça a prática de uma literatura livre, em
todas as suas instâncias.
Múcio
Goes foi um homem impregnado de ideias poéticas, sensibilidade e
maturidade a ponto de pontear em curtíssimos versos, sua poética
rica de imagens, numa semiótica analítica lírica e extremamente de
bom gosto.
Que
as Egrégoras Cósmicas o receba de braços abertos. Que sua energia de
vida (exemplo para todos nós) seja a tônica inspiradora para todos
os que lhe conheceram mais de perto.
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