sábado, 21 de abril de 2018

O COSMO RECEBE EM SEUS BRAÇOS UM POETA DE PRIMEIRA GRANDEZA – MÚCIO GOES, UM PALMARENSE SINTETIZADOR DE VERSOS!

Múcio Goes, em foto de perfil escolhida por ele mesmo


O COSMO RECEBE EM SEUS BRAÇOS UM POETA DE PRIMEIRA GRANDEZA – MÚCIO GOES, UM PALMARENSE SINTETIZADOR DE VERSOS!

No dia de ontem (20/4)Palmares perdeu um dos maiores nomes na Literatura. Tratasse do grande artífice da palavra Múcio de Lima Góes, ou simplesmente Múcio Goes.

Residente em Maceió desde 1991, o jovem poeta vinha sofrendo há anos em consequência da tretraplegia, por conta de acidente automobilístico que o colocou numa cadeira de rodas.

A sua condição de cadeirante não o fez perder a fé na vida. Ele então adentra o universo das palavras e com elas estabelece um pacto de sintetização. Isto foi a sua marca maior em todos os poemas que produziu.

Tive o privilégio de trocar, por pouco tempo, figurinhas com o poeta. Homem de palavras curtas, todavia, bastante incisivas e transgressoras dos paradigmas gramaticais a que muitos outros poetas se submetem, mas, como disse a mim certa vez: “Os outros são os ostras!”

Personalidade franca, frente as dores atrozes que tomavam conta de seu corpo, ele, mesmo assim encontrava lenitivo nas palavras.

Escreveu poemas lindos como:

"ainda ontem
passeando pelo jardim
tropecei num pé de
saudades
e caí em mim."

Texto extremamente introspectivo, que nos remete a falta que alguém muito importante lhe fazia. Certamente a sua mãe, pessoa que a vida toda cuidava do poeta, sobretudo, depois do acidente sofrido pelo poeta.

Em seus poemas também flava de dores físicas, sofrimento que o acompanhou por muitos anos e que lhe provocava uma insônia feroz. Este poema nos evidencia o tamanho da agonia impregnada no corpo do seu criador.:

"chega
a
noite
meço
a
dor
e
ador
meço"

Múcio Goes, apesar de ter muitos amigos e admiradores, era um poeta solitário (ou pelo menos se sentia assim). Para mostrar isso escreveu:

"eu poderia
estar roubando
matando

mas estou aqui
fazendo poesia
driblando a solidão

mente sã
corpo não"

Nestes dois últimos versos percebemos uma queixa acerca de sua condição física. Isto se evidencia em vários dos seus poemas. Mas também, quem em sã consciência, aceitaria viver aprisionado no próprio corpo sem um certo grau de “amargura” interior?

Além das temáticas de solidão, saudade e dor o amor e sexo também fizeram parte do seu imaginário de poeta dos versos curtos, sintetizados no seguinte poema:

{poeminha de verão}

nesse calor
melhor que ver-te
é te levar
para um sorvete
e não só verte
mas sol ver-te
dissolver-te
ter-te
sorver-te”

Observemos que ele sempre começava seus poemas com letras minúsculas, quebrando literariamente com a regra gramatical, haja vista que a licença poética abraça a prática de uma literatura livre, em todas as suas instâncias.

Múcio Goes foi um homem impregnado de ideias poéticas, sensibilidade e maturidade a ponto de pontear em curtíssimos versos, sua poética rica de imagens, numa semiótica analítica lírica e extremamente de bom gosto.

Que as Egrégoras Cósmicas o receba de braços abertos. Que sua energia de vida (exemplo para todos nós) seja a tônica inspiradora para todos os que lhe conheceram mais de perto.

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