A NOVA
POESIA DA FAMASUL
(Prof.
Gleidistone Antunes)
Dois
poetas vitalinos
A poesia tem sido a mola propulsora que eleva a alma dos alegres, ou
dos angustiados. Dos novos e dos velhos. Dos homens e das mulheres.
Bendito seja, então, o Deus da nossa compreensão, pelos poetas! São
eles que absorvem as imagens, os cheiros e as cores da vida e dão
animum às pessoas que dela (a poesia) se alimentam.
Mas quem se alimenta de poemas, precisa estar desperto e sensível
para sentir na alma o sabor da poesia que, por sua complexidade, pode
causar (ou provocar) o bem ou o mal. E para entendê-las, devemos
estar antenados aos novos talentos.
Entre essa nova safra de poetas temos, os que bebem nas fontes da
Poesia Absoluta, de Vital Corrêa de Araújo, contrariam a afirmativa
de que: “Quem lê VCA, tem AVC!” O poeta Yannick Clemon, do curso
de Letras da Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul
–Famasul, teve um surto de absolutismo poético vitalino, quando
rasga a nossa compreensão ao falar no poema “Meu Mal”:
Engulo meu sofrimento
bebo da água da
morte
transpiro o desejo de
viver
penduro a dor no
varal
levanto do poço
d’angustia
mergulho em nuvens de
sonhos
e renasço sobre o
mar de pelos.
Yannick metaforiza engolir os seus pesares no primeiro verso, mas no
último, renasce. Todavia, até aí, não se sabe se o poeta renasce
nu em pelo, ou o pelo do qual ele fala, são as entranhas pelas quais
passam todo vivente ao entrar neste mundo, com porteira e, já com
tranca funérea.
O rapaz é mesmo um “buliçoso” na arte de poetar. Mesmo na
“Solidão”, esperneia num misto de fúria e gozo:
O hálito do mar me
arranha
fratura minh’alma
me dilui em infinito.
orgasmos de fúria
em poços retínicos
me embriago de dor.
Enquanto Yannick fala de fúria, dor e morte, seu colega de curso
Pablo Pereira põe o “Deus” do seu coração na conversa poética:
Com o toque do teu
olhar
o mar cala sem
hesitar.
Profundeza que
destila beleza
prostra-se em
reverência.
O vento grita em alto
som
a melodia que o céu
jamais elaborou.
A terra treme em
pensar
folhas que banham
lágrimas de socorro.
Mesmo ao falar em Deus, o poema transcende o discurso da
religiosidade, e descamba na sua fé. Pois em “O grito” de
Pablo...
Vejo a vontade da
voz,
sorrindo com seu
silêncio...
Ouço, ouvido,
oscilando
vozes que magoam o
tempo...
Sinto, sentido,
sentado
na porta do
infinito...
Abraço, amor,
apertado
em olhos famintos...
A fome de amor e de abraço, evidenciada nas palavras do autor, nos
possibilita entender o quanto nós humanos estamos carentes de
fraternidade e de sermos ouvidos.
Duas
poetisas vitalícias
Na contramão de toda essa complexidade, surgem (também de Letras)
duas poetisas de alma e aparência delicadas. A primeira –
Maristela Freitas. Emotiva que, com o “O
vendedor de balões” nos conta das dores e ilusões, mas que nos
apresenta no seio poético de seus versos, a esperança e o sonho,
não a morte, como os ultrarromânticos:
É o vendedor de
ilusões
o vendedor de dor
é o que vende dor
ele ganha a vida com
sonhos e sons.
Anda com cores
vibrantes
e sonhos ambulantes
é o que a menina na
janela
sonha e ganha.
A poetisa é essa menina que, como disse Antunes, na Antologia Poetas
da FAMASUL (2014 - 30): “Mágica menina, linda morena / Fruta de
conde, manga madura...”
E na delicadeza, a poetisa, continua seu devaneio:
Correm as crianças
atrás do vendedor.
Cada olhar, um
cristal diferente
balões coloridos,
livres
voando em cada
pensamento
transbordando no
vento
levando pra casa
histórias
jamais contadas.
É o vendedor!
É o que vende dor!
A sua colega Maria Dulce, docemente molha nossos lábios com seu
néctar poético sentimentalmente, como uma pétala ao abrir-se na
aurora de uma manhã, em plena primavera, em que “O vento”,
assopra delicadamente, as flores:
As folhas que se
desprenderam
de mim não fazem
falta.
A natureza levou-me a
lugares inesperados.
O vento me guiou para
novos horizontes
onde a dança das
águas inundou o meu ser.
Os tons de marrom
deram espaços
a verdes viçosos e
vibrantes
trazendo alegria e
esperança a rua do outono.
O vento trouxe a
primavera de volta
e as nuvens de cores
voltaram a reinar.
E nessa viagem entre o complexo, o quase indecifrável(?), a fé que
transcende a religiosidade e o amor delicado de duas flores morenas,
tais quais a dos maracujás, encerro minhas palavras saltitante de
alegria, por ver quatro novos poetas debruçarem-se sobre as palavras
e escreverem tão distintamente, mas tão prazerosamente de serem
lidos em todo tempo. Como a arte é eterna, todos os vitalinos são
vitalícios.