domingo, 21 de junho de 2015

DIA DA CARIDADE




DIA DA CARIDADE

Mário Lange de S. Thiago


A CARIDADE É UM EXERCÍCIO ESPIRITUAL… QUEM PRATICA O BEM, COLOCA EM MOVIMENTO 
AS FORÇAS DA ALMA.
Chico Xavier


 A Lei nº 5.063, de 4 de julho de 1966, instituiu o dia 19 de julho como sendo o dia da caridade. É certo que a lei não torna a caridade obrigatória, nem mesmo a sua comemoração neste dia. Então, o que terá levado o legislador a tal indicação normativa, que não encerra norma alguma? Como nas outras comemorações, do mesmo modo apontadas em normas jurídicas, proclama uma questão moral, subsumida no conceito de caridade, dando-lhe significação convivencial, que é em última análise o objeto do Direito.

Trata-se de um artifício, do ponto de vista jurídico, com vistas à reflexão.

A caridade é um conceito cristão, nem por isso necessariamente repudiado por outras religiões. Paulo, na 1ª Epístola aos Coríntios, ressoando a Parábola do Bom Samaritano, fala-nos da caridade, considerando-a como a virtude mais excelente, mesmo em face da fé e da esperança (“A maior delas, porém, é a caridade”, cf. a tradução da Bíblia de Jerusalém). Entre os espíritas, que construíram ao lado das teologias tradicionais um modelo teórico que dá dimensão espiritual aos ensinos do Cristo, a caridade vem pontuada na máxima: “Fora da caridade não há salvação”. Ainda marcada pela palavra “salvação”, a expressão indica, em realidade, a ideia de evolução, ou seja, a transformação moral do Espírito.


O pão da caridade

 Mas, que vem a ser a caridade e porque se dá a ela tanta significação, centralizando todo o modelo existencial cristão? Dir-se-á que a caridade é o amor em movimento, expressando-se. Logo, sem amor não há verdadeiramente caridade. Veja-se a expressão de Paulo: “Ainda que distribuísse todos os meus bens aos famintos,... se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria”. E aqui não se está falando de amor a alguma coisa excelente ou, mesmo, a alguém com merecimentos estéticos, existenciais, ou ainda, fragilidades. Mas, de amor, simplesmente, como prefere Madre Tereza, patrimônio espiritual imperturbável e inextinguível. Portanto, no processo espiritual evolutivo o que nos edifica e posiciona vibratoriamente nas dimensões da espiritualidade, não é a obra ou o serviço em si (a que se dá valor, entretanto), mas a mudança interior ou a renovação mental, que permite compreender o poema franciscano do “é dando que se recebe”.


A caridade pode ser material ou moral, mas é imprescindível distinguir, na esteira de Kardec, a caridade benevolente da caridade beneficente. Nas palavras do Codificador “se a beneficência é necessariamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à benevolência”. Entreguemo-nos à caridade como valor subjetivo, essencial à evolução do Espírito, posto que, como define Paulo, “A caridade é paciente; a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

(o autor é Vice-Presidente de Cultura e Ciência, da Federação Espírita Catarinense)