sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pragmatismo e enunciação X Pragmatismo e imagem na crônica “A Mulher da Sombrinha” de Ademmaro Gommes

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA MATA SUL
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS

Pragmatismo e enunciação X Pragmatismo e imagem na crônica “A Mulher da Sombrinha” de Ademmaro Gommes
Por Gleidistone da Silva

Apresentação

O objetivo principal deste trabalho é desenvolver, no âmbito da AD - Análise do Discurso (escola francesa), perspectivas voltadas à análise do texto AMULHER DA SOMBRINHA, crônica do poeta e escritor Ademmauro Gommmes, tendo como focos analíticos a enunciação e pragmática / enunciação e imagem.


Conceitos de acordo com a ótica da AD – de linha francesa


Enunciação: - Toda enunciação é um acontecimento único. Tem um enunciador, um destinatário, um tempo e um lugar só seus. Essas condições não se repetirão juntas jamais - se a mesma enunciação for feita no mesmo lugar, pelo mesmo enunciador e para o mesmo destinatário, um segundo depois, o tempo já não será mais o mesmo, por exemplo. O enunciado, por sua vez, é a reprodução textual deste ato e, por conseguinte, também é único. Como expressa Maingueneau (2001:  6), reportando-se a Benveniste: “A enunciação é um ato individual de utilização da língua, que se opõe ao enunciado, objeto linguístico resultante”. Fiorin (2002: 36) completa, citando Greimas e Courtès: “O enunciado, por oposição à enunciação, deve ser concebido como ‘o estado’ que dela resulta independentemente de suas dimensões sintagmáticas”.
Partindo dessas premissas, podemos afirmar, à luz dos Estudos Linguísticos, então que enunciação é: “o resultado de uma produção discursiva através de uma declaração, de uma proposição e de uma expressão”.

Pragmática: - Na linguística, a pragmática se caracteriza pelo estudo da linguagem em uso, ou, segundo a definição de Morris (1938), o primeiro a usar esse termo contemporaneamente,o estudo da relação dos signos com seus intérpretes”.
Rudolf Carnap (1938), definiu a pragmática como: “( )... o estudo da linguagem em relação aos seus falantes, ou usuários. Tanto a definição de Morris, quanto a de Carnap, fazem parte da já consagrada distinção geral do campo de estudos da linguagem entre pragmática, que considera a linguagem em seu uso concreto, semântico, que examina os signos linguísticos em sua relação com os objetos que designam ou a que se referem, e sintaxe, que analisa a relação dos signos entre si.
Mais recentemente, o termo “pragmática” passou a englobar todos os estudos da linguagem relacionados a seu uso na comunicação. Uma outra concepção de pragmática se desenvolveu com base em correntes na filosofia da linguagem e na linguística que valorizam a linguagem comum e o uso concreto da linguagem como a principal instância de investigação da linguagem, tratando a semântica e a sintaxe apenas como construções teóricas.
A filosofia da linguagem ordinária de Gilbert Ryle, a teoria dos atos de fala de Austin, a concepção de jogos de linguagem de Wittgenstein, e mesmo a semiótica de Umberto Eco, dentre outras, podem ser incluídas nessa vertente. Trata-se basicamente de uma visão filosófica segundo a qual o estudo da linguagem deve ser realizado em uma perspectiva pragmática, ou seja, enquanto prática social concreta. Portanto, examinando, a constituição do significado linguístico a partir da interação entre falante e ouvinte, do contexto de uso, dos elementos sócio-culturais pressupostos pelo uso, e dos objetivos, efeitos e consequências desses usos.

Imagem: - É um produto da interiorização dos atos de inteligência constituindo-se num decalque, não do próprio objeto, mas das acomodações próprias da ação que incide sobre um objeto a partir de um enunciado. Representação mental de um objeto realizada através do sensório-motor. É a imagem criada na mente de um objeto ou ação distante.


Pragmatismo e enunciação X Pragmatismo e imagem na crônica “A Mulher da Sombrinha” de Ademmaro Gommes

Introdução


           Com muita frequência um texto retoma passagens de outro (s), diferentemente de um texto de caráter científico, o qual cita outros textos de forma explicita o texto literário cita outros textos de forma implícita, o escritor não indica o autor e o livro donde retira as passagens citadas. Essa citação de um texto por outro, esse dialogo entre os textos é chamado de intertextualidade. Quando um texto faz citação de outro texto sua intenção é reafirmar ou inverter, contestar e deformar alguns sentidos do texto citado, para polemizar com ele. E, nesse sentido, o papel da semiótica, da enunciação e da pragmática, definidas por Barros (1990) é descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz, analisando os discursos construindo-lhes o sentido usando o jogo da intertextualidade e o contexto da sociedade e da história.
O presente artigo visa analisar, à luz da AD, os elementos da enunciação e pragmática/enunciação e imagem, conforme nos legou a Escola da Linguística Francesa. Para tanto, nos valemos de alguns artigos extraídos de Web e dos pouquíssimos livros que encontramos em nossa biblioteca universitária. Esperamos lograr êxito nessa empreitada e, Oxalá que nosso artigo possa de alguma forma colaborar com àqueles que se interessam pelos estudos da lingüística.



Pragmatismo e enunciação

         O texto a Mulher da Sombrinha nos mostra uma linha que divide os discursos Históricos, Sociais e Ideológicos do discurso Imagético (não-verbal), onde o ícone, ou seja, a personagem, aparece de forma mitificada, oferecendo-nos, graças aos argumentos linguísticos utilizados pelo autor, uma conotação surrealista, evidenciando com isto, um profundo conhecimento das regras que regem a produção textual.
De acordo com BENVENISTE (1989: p. 186) “... o ato individual de apropriação introduz aquele que fala em sua fala. Assim o enunciado situa-se na escrita segundo a idéia de que o que escreve se enuncia ao escrever e, no interior de sua escrita, ele faz os indivíduos se enunciarem”. Observemos esse fenômeno logo no primeiro parágrafo:

Este é um caso verídico. Pode ter certeza do que eu vou contar. Eu não tô mentindo, não. Aconteceu na cidade de Catende, em Pernambuco”.

Podemos perceber também que a linguagem textual é completamente subjetiva (Benveniste, 1989), pois é produzida por um falante que sente a necessidade, o desejo e o prazer de dizer alguma coisa. Ele relata sua própria vivência, utilizando uma linguagem simples para expressar sua subjetividade esse autor utilizou-se da intertextualidade, termo estudado pela primeira vez por Bakhtin (1992). O pragmatismo surge, então, no Discurso, através de uma linguagem coloquial (porque intertextualiza a fala de outrem – do social populesco) oferecendo-nos uma conotação de verossimilhança, personificando a figura imagética da Mulher da Sombrinha num ser real, incutindo no imaginário do leitor/receptor a ideia de um ser fantasmagórico.

Disfarçado por usos linguísticos aparentemente ‘descompromissados’ de ideologias, o modo como o narrador sujeito integra a fala de outro(s) sujeito(s) à sua voz, diz muito mais da postura deste sujeito (Social) em relação ao conteúdo veiculado pela voz que apresenta, do que dizem os significados das próprias estruturas linguísticas com que tais recursos que são codificados o fazem: esses enunciados são pré-organizados na mente por um processo cognitivo de mesclagem de vozes, vejamos:

Uma mulher arranjou um namorado e, não querendo que ninguém soubesse do seu relacionamento, inventou um disfarce (o que nos remete à imagem) interessante. Ela pensou: “Para onde eu for o povo vai me vê! Já sei. Vou arranjar um esconderijo de arrepiar” e escolheu para lugar dos encontros, o cemitério da cidade. Assim, ela ficou animada com essa ideia”.

          Explorando esse texto linguisticamente, segundo a Análise do Discurso, os sujeito produz um discurso já em condições dadas, estabelecidas por uma formação discursiva correspondente. Podemos dizer também que a Mulher da Sombrinha foi escrita a partir do(s) discurso(s) do(s) outro(s) – o Social; para afirmar a existência de algo que se supõe existir na realidade. Segundo Maingueneau (1989), o discurso pode ser construído de várias formas exclusive em forma de crônica.


Enunciação e a imagem


Ao se pensar a imagem a partir do verbal, acaba-se por descrever, falar da imagem, dando lugar a um trabalho de segmentação da imagem. Segundo (Davidson, 1984) a palavra fala da imagem, a descreve e traduz, mas jamais revela a sua matéria visual. Por isso mesmo, uma “imagem não vale mil palavras, ou outro número qualquer”. Por tanto, a palavra não pode ser a moeda de troca das imagens. É a visualidade que permite a existência, a forma material da imagem e não a sua co-relação com o verbal, por este motivo a figura em si, da Mulher da Sombrinha se multiplica na medida em que cada leitor/receptor entra em contato com o enunciado do autor e interage com a enunciação, percebendo assim, cognitivamente, o Discurso histórico/Social implicitamente enunciado pelo autor na seguinte passagem:

Querendo esconder o caso, depois do encontro amoroso, ela aparecia encobrindo o rosto com uma sombrinha, (interação visual imaginária do receptor/leitor com a enunciação do autor) como desculpa para não tomar sereno, pois sempre saía à meia noite. Aí o povo via sempre aquela mulher sair do cemitério Às altas horas. Foi dessa forma que surgiu a história da Mulher da Sombrinha”.

O contexto histórico-social da Mulher da Sombrinha envolve elementos tanto da realidade do autor quanto do receptor — e a análise destes elementos nos ajudam a determinar o sentido. A interpretação desse enunciado nos proporciona, de imediato, saber que há um autor, um sujeito com determinada identidade social e histórica e, a partir disto, situar-se no discurso compartilhando desta identidade.


Orlandi (1993) observa que os mecanismos de análise que apreendem o não-verbal através do verbal revelam um efeito ideológico de apagamento que se produz entre os diferentes sistemas significantes, dando sustentação, dentre outros, ao "mito", é o que observamos no enunciado a seguir:

Conta-se que, hoje, em Catende, as mulheres têm medo de passar diante do cemitério à meia noite, de sombrinha armada”.

Esse trecho nos lembra Fiorin (1988) que diz: “(…) Narrador e interlocutor são instâncias que tomam a palavra para si no ato da interação. O autor é a voz de outrem que ressoa num enunciado de um narrador ou de um interlocutor. Assim, o autor é a fonte enunciativa responsável por um dado enunciado incorporado no enunciado de outrem”.

Conclusão


Concluímos este artigo com as seguintes citações de ERNANI & NICOLA (2001: p. 64) “O tempo todo participamos de processos de interlocução, ora como produtores, ora como consumidores dos mais variados textos”.e, ORLANDI (1999: p. 17) “... tomar a palavra é um ato social com todas as suas implicações: conflitos, reconhecimentos, relações de poder, constituição de identidades, etc.”
Sendo assim, o ato de interação discursiva entre o autor-narrador e o leitor - receptor, se dá por intermédio da troca de discursos no momento em que todos se inserem no enunciado, produto da enunciação das ideias dos atores formando com isso, um jogo de interdiscursividade.


A Mulher da Sombrinha
Ademmauro Gommes

Este é um caso verídico. Pode ter certeza do que eu vou contar. Eu não to mentindo, não. Aconteceu na cidade de Catende, em Pernambuco.
Uma mulher arranjou um namorado e, não querendo que ninguém soubesse do seu relacionamento, inventou um disfarce interessante. Ela pensou: “Para onde eu for o povo vai me vê! Já sei. Vou arranjar um esconderijo de arrepiar” e escolheu para lugar dos encontros, o cemitério da cidade. Assim, ela ficou animada com essa ideia.
Querendo esconder o caso, depois do encontro amoroso, ela aparecia encobrindo o rosto com uma sombrinha, como desculpa para não tomar sereno, pois sempre saía à meia noite. Aí o povo via sempre aquela mulher sair do cemitério Às altas horas. Foi dessa forma que surgiu a história da Mulher da Sombrinha.
Conta-se que, hoje, lá em Catende, as mulheres têm medo de passar diante do cemitério à meia noite, de sombrinha armada.
Mas a coisa não parou por aqui. As pessoas entenderam que o fato era muito interessante e, ao invés de encobrir o acontecido, transformaram essa ocorrência em atração folclórica. No tempo de carnaval, sai um bloco do cemitério, guiado por uma boneca gigante, representando a Mulher da Sombrinha.
Na época carnavalesca, tem problema não. Qualquer um pode entrar e sair de sombrinha do cemitério. Mas vá lá em outro tempo, pra ver. Dizem que, depois que a mulher morreu, ela aparece toda noite, portando uma sombrinha, querendo arranjar namorado. Se não tiver acreditando, vá danado pra Catende.    Todo mundo lá confira esta história. 

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